ZEN A arte de viver simplesmente – Shunmyo Masuno

Estudava eu, alegre e descontraidamente, com algumas alunas do secundário, eis senão quando… conversas e palavras puxam-se umas às outras – as cerejas também – e… deu nisto:

Olá, boa tarde! Vocês aceitaram o desafio de ler um livro fora do Plano Nacional de Leitura e, por conseguinte, resolvi fazer o mesmo! Assim, fui ali ao monte de livros por ler e escolhi este. Não é que esteja arrependido, mas… é capaz de ser uma leitura difícil…

Senão vejamos: “Quando chega a casa, provavelmente quer pôr-se à vontade. E quando se descalça, quase que não pensa duas vezes no assunto. No entanto, se gastar alguns segundos para alinhar os sapatos, estará a praticar zen. Estará a ordenar a sua vida, a “arrumá-la” de forma mais harmoniosa. Ao organizar o espaço físico à sua volta, vai tranquilizar a mente… por breves instantes.” – contracapa

Desapegue-se do que é velho antes de pensar em coisas novas.

Quando as coisas não correm bem, temos tendência para pensar que é porque há algo que nos falta. Mas se queremos que a situação mude, primeiro temos de nos libertar de alguma coisa, antes de irmos à procura de coisas novas. Este é um princípio fundamental para uma vida simples.” – p.25

A sua secretária é um espelho da sua mente interior.

(…) Quando as coisas estão desordenadas, arrume-as. Quando as coisas se sujam, limpe-as. Antes de dar o dia por terminado, arrume a sua secretária. As pessoas que têm esse hábito sentem maior clareza. São capazes de se concentrar a cem por cento no trabalho, sem se distraírem com nada.

(…)

A cada passagem da vassoura, limpamos o pó da mente. A cada passagem do pano, o coração resplandece mais.

Isto aplica-se tanto à secretária no seu emprego quanto aos quartos em sua casa. Não se deixe bloquear por ansiedades ou problemas – a chave para uma mente revigorada é, em primeiro lugar, pôr em ordem o ambiente que nos rodeia.” – p.27

“A vida requer tempo e esforço. Por isso, quando eliminamos o tempo e o esforço, eliminamos os prazeres da vida.

De vez em quando, experimente a via menos cómoda.” – p.29

«Há coisas que são “necessidades não essenciais”

O acesso a um templo zen ou a um santuário xintoísta tem vários portões – grandes arcadas vermelhas a que chamamos torii.

Antes de chegarmos ao átrio principal de um templo zen, passamos por três portões – o principal, o central e o triplo -, que representam o nosso percurso até à iluminação espiritual. Os templos xintoístas também têm três torii.

Afinal porque é que se constroem estras estruturas acessórias? Bem, creio que podemos chamar-lhes “necessidades não essenciais”.

Referimo-nos aos portões e aos torii como “barreiras espirituais”. Por outras palavras, eles fazem a ligação entre dois mundos separados.

Cada um desses portões lembra-nos de que nos aproximamos de um mundo puro – daquilo que, no budismo, consideramos ser “terrenos sagrado”.

É por isso que os templos budistas têm esses três portões. Ao criarem uma fronteira entre mundos, ajudam-nos a ter consciência da distância que há entre cada um. E, à medida que passamos por cada um desses portões, temos a sensação de estar a penetrar em terreno sagrado.

O tempo que leva a chegar ao trabalho também pode ser considerado uma “necessidade não essencial”. Dá-lhe tempo para passar do “modo pessoal” para o “modo profissional”. Pode parecer inútil, mas talvez seja indispensável.» – p.57

“Há alturas em que unimos as mãos e, em silêncio, rezamos por alguém ou refletimos sobre algo. Recomendo que arranje tempo para fazer isto, não só quando visita uma campa ou um local religioso, mas também na sua vida quotidiana.

O que é gassho? A mão direita representa os outros. Pode ser o Buda, Deus ou qualquer pessoa à nossa volta. A mão esquerda somos nós. Gassho representa unir as duas para que se tornem uma só. É um sentimento de respeito pelos outros – uma oferenda de humildade.

Ao unirmos as nossas mãos, alimentamos o sentimento de gratidão. Não sobra espaço para o conflito. Não podemos atacar ninguém com as mãos unidas, pois não? Um pedido de desculpas feito com as mãos unidas apazigua a raiva ou a irritação. É este o significado de gassho.” – p.61

“Ninguém se pode arrepender do futuro.” – p.70

“Vou contar-lhe uma história sobre nuvens a fugirem.

Imagine que está a trabalhar no campo num dia quente de verão. Sem nuvens que o protejam do sol ardente, tem de suportar o calor. Mas então olha para o céu e vê ao longe uma mancha branca.

Ah, aposto que deve estar mais fresco à sombra daquela nuvem. Espero que chegue aqui depressa. E pondera fazer uma pausa até a nuvem chegar.

Mas a verdade é que a nuvem pode nunca chegar para o proteger do sol e o dia pode acabar enquanto espera pela sombra.

Em vez de esperar que a nuvem se aproxime, esforce-se por fazer logo o que é preciso fazer. Se trabalhar com dedicação, talvez se esqueça do calor. Talvez a nuvem chegue de repente, já sem estar à espera, trazendo consigo uma frescura.

Aquilo de que falo aqui aplica-se não só às nuvens, mas também ao destino ou à sorte. De nada serve invejar outrem que tenha sido abençoado com alguma sorte, nem lamentar a falta de oportunidade. Simplesmente dê o seu melhor para fazer o que tem a fazer. E a sorte decerto virá ao seu encontro.” – p.75

“Passa-se o mesmo com as nossas vidas. Tudo está em fluxo constante. Há mudanças à medida que envelhecemos e mudanças no nosso ambiente.

Nada há a recear nessas mudanças.

Uma mente flexível aceita a mudança e não se apega ao passado. Em vez de lamentar a mudança, encontra nela nova beleza e esperança.” – p.109

“Sabedoria é aquilo que sabemos por pormos em prática o conhecimento.” – p.119

“Os três venenos são a ganância, a raiva e a ignorância. (…)

Sempre que der por algum dos três venenos a começar a mostrar-se, tente acalmar a mente, regulando a respiração. Isto pode impedir que os problemas se instalem.” – p.143

«Não seja demasiado apressado, nem demasiado descontraído.

Há uma expressão japonesa, sottaku doji, que quer dizer, literalmente, “bicar simultaneamente por dentro e por fora”.

É usada para descrever o que acontece quando um ovo está a eclodir: a primeira parte refere-se ao pintainho, que bica por dentro da casca do ovo; a segunda parte, à reação da galinha que começa a bicar por fora, para ajudar o pintainho a sair.

É uma situação muito delicada. Se a galinha partir a casa antes de o pintainho estar completamente formado, o pintainho morre. Por isso, tem de escutar muito atenciosamente o som das bicadas do filhote e decidir quando é a altura de bicar por fora, para o ajudar a romper a casca.

Por outras palavras, sottaku doji tem a ver com encontrar a altura certa para ambos.

Isto aplica-se à educação das crianças, mas serve também para outras situações.

Quando ensinamos alguém no trabalho, não podemos apressá-lo, nem ser demasiado descontraídos. E, quando somos nós a aprender, cabe-nos enviar um sinal de que estamos prontos para progredir.

Os melhores resultados ocorrem quando duas partes se sincronizam e agem na altura certa.» – p.155

E pronto, deixo por aqui algumas citações que podem servir de exemplo para aguçar a vossa curiosidade à leitura do mesmo.

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