Falta-me um título sugestivo. Aceito propostas

diario de um professor desempregadoHoje tive que faltar. É coisa que não me agrada. Não me agrada mesmo nada, não faz parte. O meu cérebro não assimila bem “isso de faltar”. Mas pronto teve que ser, tive que ir ao médico. O meu ouvido esquerdo pifou. Desde domingo. Isto diagnosticado por mim. Na segunda-feira continuou pifado. É melhor ir ao médico. Embora renitente, qualquer pessoa desempregada compreender-me-á muito bem que isso de ir médico não é para quem precisa, é para quem pode. Os cinco euros da consulta são um entrave e… a inevitável receita é… uma surpresa!

Fui. Afinal já estou à rasca há três dias. Quando cheguei do curso fui cumprir a minha obrigação de voluntário na associação que acolhe os animais que vocês abandonam e depois, por volta das sete e meia fui ao médico. A senhora do balcão olhou para o relógio de parede e, mesmo antes das “boas tardes” eu disse que ainda não eram oito horas. Não fiquei sem resposta: – Pois… mas a esta hora o doutor já não o atende. Ficou marcado para amanhã, que é hoje. Não percebo, sinceramente não compreendo porque é que o médico é pago até às oito horas, visto que deixa de trabalhar muito mais cedo, porquê pagar-lhe? Não deve ser para eu perceber. Ora e se o médico, deixar de atender quem precisa… a senhora do atendimento não está lá a fazer nada. Sobra apenas o segurança…

Epá um gajo tem que ser honesto com o médico, não é? Se não, ele não adivinha o que é que se passa. Então resolvi contar-lhe a verdade: já desde o verão passado que tenho um problema no ouvido esquerdo, e pronto, não lhe contei mais nada além dos sintomas. Eu falo muito mal espanhol, nem sei dizer as asneiras como deve ser, mas o médico, embora colombiano soube explicar que o computador tem um problema qualquer, ele acha que não sabe o que é que se passa com o computador mas que aquilo funciona mal, é uma verdade. Curioso, já a médica anterior, se queixava do mesmo, embora tenha admitido que o problema pode estar no facto de ela não perceber nada de computadores. Mas essa eu compreendi melhor visto que o meu crioulo é melhor que o espanhol. Embora de continentes diferentes, uma africana, outro sul americano, uma coisa têm em comum, uma não! Duas: eu não tenho nada e o computador está avariado. Deve ser o tal de conflito de gerações: a médica do verão, era tão novinha que quase a tratei por menina doutora, era para aí uma mistura de americana com indiana, tinha nome americano e aspeto indiano, não reclamou do computador e receitou-me um medicamento que quando acabou, o ouvido estava efetivamente um pouquinho melhor, embora eu tenha passado pela farmácia e o farmacêutico vendeu-me mais uma caixita, desta feita de genéricos, para ver se a coisa melhorava. Curiosamente o problema do computador da farmácia foi muito fácil de resolver: a imagem no monitor com os números de chamada dos clientes estava invertida e para resolver isso, basta carregar num par de botões. Comentei com o farmacêutico, sempre é melhor do que com o facebook, que provavelmente algo estará mal, tanto é que eu estou à rasca. Ele concorda comigo e acha que deve ser algo muito antigo, porque o medicamento que fui comprar… não havia em stock. A última unidade vendida datava de há dois anos e dois meses. Compreendo que não tenham tal coisa armazenada. A médica anterior tinha-me receitado uma coisa para lavar o ouvido. Eu já tirei uma pós-graduação em TIC, uma especialização em TCM, atualmente estou a faltar a um curso de programação em ambiente web portanto, mais coisa menos coisa, estou apto a exercer medicina.

Estou mesmo farto de estar desempregado… já me decidi: quando voltar a trabalhar, vou a um médico particular! Então, não precisei de arregaçar as mangas, porque apesar de estar de chuva, estamos no verão e respondi a mais uma oferta de trabalho. Tive que esperar pelo início do novo mês, porque na biblioteca municipal o número de fotocópias é limitado por cada utente mensalmente, escusado será dizer que ter impressora tenho, tinteiro… isso é que já é outra conversa. Mesmo assim excedi o limite e lá enviei por correio todas as catorze páginas necessárias para concorrer à tal oferta. 4,70€ foi quanto paguei nos correios por uma carta registada com aviso de receção – era pré requisito, teve de ser. Isto de concorrer aos trabalhos que gosto… não é barato. Agora só para o próximo mês.

Liguei a televisão, só para relaxar um bocadinho. O programa do canal do Estado estava a ser transmitido em direto aqui da terriola ao lado. Fiquei curioso para ver se via alguém conhecido. Gravei. Tinha que mostrar à minha quase-esposa. Eu não reconheci ninguém, ela reconheceu um monte de gente. Todas as reformadas que mandaram beijinhos para a… e agora começa a lista: América; França; Alemanha; Luxemburgo; Austrália (imagine-se Austrália!) e por aí fora, por esse mundo fora; alguns dos desempregados presentes e até uma das apresentadoras ela reconheceu. Mas… fiquei… ah como é que hei de dizer… surpreendido, para não dizer preocupado, é que ela reconheceu uma das apresentadoras do programa, da Internet, de ter visto a tal apresentadora a disponibilizar o sistema de saneamento básico, como centro de prazer para alguém que ela não via, pois estava de costas. Aaah… Se calhar tenho que deixar de estudar de dia e de noite, pelo menos de noite. É o país que temos. A televisão retrata bem isso: reformados, desempregados e os que trabalham estão lá fora.

01-07-2014

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